segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Quando um dia eu Morri...

Morri ao nascer do dia...
Nunca o sol pareceu-me tão sem graça como naquele instante derradeiro.
Fim da madrugada. Um novo domingo para um passageiro que partia.
Ninguém ao meu lado para testemunhar o meu último suspiro.
Nenhuma lágrima. Apenas a solidão como um refrigério a acalentar meus ânimos.
Morri sozinho. Como sozinhos todos chegam e partes indefinidamente...
Ninguém que pudesse compartilhar comigo o vinho amargo da minha despedida.
Morri como vivi. Consciente e pleno de mim mesmo.
Assaz convencido de que na transformação do mundo
não havia mais nenhum lugar que coubesse a grandeza
do meu ser excêntrico, irrequieto e revoltado
contra todo o império da mentira, da corrupção e do cinismo.
O planeta agora pertence aos bandidos e aos mecenários sem escrúpulos.
Deste então vejo ainda mais explícito a atmosfera negra do absurdo
que se abatera por sobre a vida.
Solitário como sempre... Assisti-me em meus primeiros socorros.
Vi-me por dentro como quem consegue abraçar seu ego.
Um quadro surreal e inusitado
para os padrões com os quais eu estava acostumado.
Milhões dos meus erros e momentos inesquecíveis passaram céleres
como em vídeo-tape por minha cabeça.
Observei meu cadáver de uma perspectiva nunca antes possível.
Como se ali, deitado no meio da sala, estivesse outro e não eu.
Não mais senti o frio daquela madrugada invernosa.
Lá fora vi a lua sobre a abóbada celeste em seu colorido estranho
tal qual uma donzela mestruada do sol.
Um longo silêncio parecia se instalar sobre meus gestos.
Mas eu não estava triste.
E eu sorria de um jeito diferente.
De um modo estranho nunca antes experimentado.
Meu Deus, como é bizarro sorrir da própria morte
e de si mesmo nestes momentos máximos.
Morri como sempre morre os que carregam pela vida inteira
uma verdade incontestável trancada a sete chaves entre os seus dedos.
Não entendi por que alguns se aventuram ainda a chorar por mim...
A vida é isso: Idas e vindas. Mecânica sempre pródiga das coisas fugidias.
Uma sucessão numérica e interminável de partidas
algumas abruptas, outras nem tanto...
Morri feliz.
Cumprir minha parte neste plano de expiação.
Travei o bom combate.
Semeie as sementes que uma vez por algum motivo
alguém num passado remoto confiara a mim.
Vivi do meu jeito. Morri como sempre imaginei...
Eis a porção do mistério que acaso me tocava.
Morri ao nascer do dia. Um domingo.
Flores se abriam nos jardim daquela cidadezinha em que eu morava.
E eu, de certo forma, achei esplêndido tudo aquilo.
E a partir deste instante fechei a porta que dava para o mundo.
Tranqüilamente, como quem esperava a namorada numa noite feérica de desejo.
Deitei-me no meu leito eterno e dormir profundamente o sono dos justos.
E assim, sonhei outros sonhos. Talvez como quem espera recuperar sua antiga juventude perdida em meio as estrelas. Brincado alegremente como crianças nos velhos tempos.
Dispersas fantasticamente na dimensão da eternidade.
_______________
Autor: José Cícero
Aurora-CE.
Foto:
http://1.bp.blogspot.com/
LEIA MAIS EM:

http://www.jcaurora.blogspot.com/
http://www.aurora.ce.gov.br/
http://www.seculteaurora.blogspot.com/
http://www.blogdaaurorajc.blogspot.com/
http://www.prosaeversojc.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja Bem-vindo ao nosso Blog Literário