sábado, 4 de junho de 2011

QUANDO UM DIA PARTI...


Eu disse adeus ao meu lugar – o sertão.
A terra em que nasci
E que mesmo sofrendo, fui feliz.
Eu parti.
Deixei pra trás a minha gente
E a minha história.

Nada disso eu quis.
A miséria me expulsou de casa
Virei retirante,
Mendigo.
Cavaleiro andante de mim mesmo.
A fome tangeu-me para longe:
Léguas tiranas...
Vaguei no eito semi-árido
como bicho do mato
morto de sede
Buscando uma poça d’água

na caatinga de outros mundos.
E a seca doravante com a morte
Fez um pacto.
Secou a cacimba e o riacho.
Matou meus pais
E os bichos.
Minhas irmãs se perderam
No ‘oco do mundo’.
Agora, toda solidão que existe
Morra comigo.
Corrente, meu cachorro ensinado,
Morrera enganchado
Enfraquecido de fome e sede
Entre as moitas brabas
de avelóz e unha-de-gato
Apenas eu sobrevivi.
Sou um solitário sobrevivente.
Porque corri há tempo
Para bem longe.
Uma terra estranha
que não é a minha.
Mas morro todo santo dia
Toda vez que esta saudade teimosa
Bate a minha porta
Como um velho conhecido
Da minha terra,
trazendo notícias
e uma carta,
do torrão em que nasci
e que deixei pra trás,
em troca de uma caneca d’água.
Desde então, vivo à pulso
E de teimoso.
Farto de lembranças
E de saudade.

JC/ A Minha Prosa é uma rosa.(inédito)

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