quarta-feira, 27 de março de 2013

Velha Vila da Missão Nova*

 Por José Cícero

Impregnado de antigas lembranças, olho agora esta fotografia dos anos oitenta. De como era a boa vida bucólica e bonita  de outrora. Do tempo  em que vivi e passei momentos inesquecíveis da minha infância prenhe de saúde, de bonança e inocência. Naquele lugarejo do oco do mundo onde fui feliz.
Antigos anos aprazíveis e de farturas em que os engenhos de cana se perdiam de vistas em meio ao verdor indescritível  das matas, qual um oceano a se derramar de verde-oliva sobre os imensos canaviais daquela vila pacata, ordeira e hospitaleira.
Natureza viva e preservada em seus ecossistemas. "Levadas" e riachos correndo livre, indefinidamente, como as próprias crianças sertanejas. Pequenos rios, todos fartos de  águas cristalinas pintadas ante o contraste, aqui e acolá, de branco e preto pelas piabas, corrós, carís e traíras. Satisfação brejeira da meninada a se banhar pelada naquelas boas águas a descer das nascentes serranas das bandas das Barreiras
Saudade incontida e, que não se acalma. Daquela vida de felicidade e brincadeiras. Da antiga meninada chupando cana kaiana e p.o.j no corte, no canavial e na bagaceira  da bulandeira. Pulando "bunda canastra" na correnteza mansa das invernadas e nas areias dos terreiros. Além de amanhecer colhendo frutas maduras nos brejos de Seu Osvaldo, Pedro da Cruz, Antonio Argeu, Pedro Saraiva e Seu Joaca. Saudades das rezas e da novenas de maio na igrejinha de Santo Antonio. Das festas do padroeiro, das missas e de todos os domingos de feira...
Vila de Missão Nova. Recordações antigas de um tempo distante, mas que nunca passa... Pretéritos anos que ainda hoje mexem comigo. Sonhos infantis que guardo como um tesouro incrível. Caçuás de lembranças e manga-rosas a perfumar o mundo com o seu cheiro. E que inda hoje, enchem o meu coração de saudades e de reminiscências. 
Momentos idos que há muito levo comigo onde quer que eu ande. Aroma de mel nos ventos catingueiros como que adocicando o mundo. Som de besouros, moendas e cambiteiros em meus ouvidos... Carro-de-boi, tropas de burros, gente do eito, moleques e bichos vivendo, desde então e, para todo o sempre  ao meu lado.
Missão Nova, como de resto,  é uma saudade que nunca morrerá em mim.
Porém, o mais triste é ter que aceitar que a Missão Nova  em que vivi quando criança,  só existe de fato, nas minhas lembranças.
Da antiga Missão Nova que um dia conheci, apenas um punhado de coisas esparsas conseguiu sobeviver ao tacão da modernidade. Posto que todo o resto foi levado para bem longe   pelas ventanias incontroláveis de um fantasma horrendo chamado tempo pós-moderno. 
Da Missão Nova que eu conheci quando criança, quase nada  restou. A vila em que vivi um dia, não existe mais...
Por isso não tenho coragem de visitá-la agora. Com medo de que  a ventania do presente, possa também apagá-la para sempre da memória que tenho congelada, onde a mantenho guardada de um jeito muito particular, amado e intocável.
Velha vila da Missão Nova que tanto amo e que nunca esqueço.
Porque tudo o mais agora é saudade ou solidão
......................
Prof. José Cícero
Secretário de Cultura e Turismo
Aurora - CE.
Foto: Distrito de Missão Nova (Mun. de M. Velha-CE)
In: Nosso Povo, Nossa Gente - Célia Magalhães
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