sexta-feira, 7 de junho de 2013

A metafísica da vida...

Enquanto tudo acontece e a vida passa.
Os homens dormem 
o mais profundamente possível.
Tudo o mais segue seu rumo inalteradamente.
Os anos, as dores, as agruras, o sofrimento,
as paixões, os momentos, o tédio, os amores.
Tudo passa correndo num piscar de olhos.
A roda da vida não para nunca...
O mundo nunca fecha para balanço.
Assim é que as coisas envelhecem, adoecem e morrem.
E o tempo, como senhor de tudo, impiedosamente,
também nos coisificam e nos condena à solidão e a morte
sem que ao menos nos demos conta.
A vida como uma lebre rápida, 
passa correndo por nossas costas.
E, quando enfim, nos tocamos,  vemos que já é muito tarde.
Só depois de tudo isso 
é que notamos de fato, que envelhecemos.
Que não somos mais os mesmos.
Que desperdiçamos o melhor que tínhamos
com preocupações inúteis e futilidades comezinhas.
Tudo passou rapidamente.
As horas, os anos, os amores, as festas, o tempo de escola,
a militância, os amigos que já eram poucos,
o instante de felicidade, a infância, a juventude.
Os arroubos da adolescência, a riqueza, a opulência,
a beleza, o porte atlético, o abrigo seguro dos nossos pais.
O brilho dos olhos, o desejo e até o negrume dos cabelos fartos...
Tudo passou celeremente, 
enquanto estivemos entretidos demais 
com as coisas insignificantes da vida.
Tudo desandou na poeira do tempo.
No mais agora é só lembranças...
Só aí, depois de tudo, é que sentimos diante dos espelhos
que já é deveras tarde 
para puder recomeçar tudo de novo.
E que jamais teremos uma segunda chance.
Passamos a ser tristes em essência.
Alguns ainda insistem em usar máscaras  nos rostos.
Só lhes restam às vezes, o tormento, a revolta,
a solidão, a tristeza ou o cinismo.
A vida, como diria Quintana, é mesmo o dever de casa,
que dia após dia protelamos para fazê-lo.
Até que se percebe que não há mais tempo o suficiente.
Eis aí todo o nosso desespero.
Quando constatamos que apenas passamos pela vida.
Mas não há outro jeito,
tampouco tempo algum para o arrependimento.
Só nos resta aceitar gregariamente nosso destino.
E assim, seguimos em bando,
como animais vencidos e  condenados 
na direção  do matadouro.
Nossas antigas utopias morrem também conosco.
Por fim, fechamos a porta de nós mesmos para outros sonhos.
Ainda assim, continuaremos dormindo...
Na esperança de que nossos filhos possam refazer 
o que pela metade deixamos.
Ou mesmo, quem sabe, continuar tudo de novo...
 ...............
Por José Cícero
Secretário de Cultura e Turismo
Aurora - CE.
(*)  In "Verso e Reversos" inédito-2013