sábado, 2 de setembro de 2017

TUDO ISSO E MAIS UM POUCO...*

Quando muito...
Um naco de couro de toicim de porco
sapecado nas brasas sobre as trempes de tijolo,
um cambiteiro contraparente do tal cozinheiro
quase estaporando diante do braseiro
de pau de marmeleiro e de canela de viado queimando.
Uma panela de barro de torresmo - o toicim torrado,
além de um cozido de baião de dois com queijo rançoso.
Outra ao lado, de arroz branco liguento, frio e insosso.
Uma reca de gatos miando como o diabo
junto com um bando zuadento de cachorros.
Um pote de água quente vazando no chão batido
sobre a forquilha de Ipê roxo.
E bem no alto recebendo a fumaça do fogo 
um cordão preto e já encardido 
com sebo de carneiro capado, costela de bode
e outras carnes de bicho do mato ali pendurado.
Um molho de pimenta bem ardido.
Um pão de milho feito na pãozeira de barro amarelo,
salgado, seco e encruado...
Uma dúzia de ovos de capote, metade goro,
encontrados num ninho abandonado 
dentro da touceira de unha de gato.
Um bocado de farinha d'água cheia de caroços.
Um penico. Um embornal, Uma cuia, um landuá,
um anzol e uma bacia de bater ovo.
Na cantareira,  uma caneca de dentes 
tal qual jacaré feita de flandre
pelo flandeiro morador da ribeira distante.
Uma cabaça enorme para carregar água do açude
como também lá da velha cacimba funda
entre os pés de manga, de maris e o canavial da vazante.
Uma catemba de coco lisa de tanto uso
para tomar pinga no alambique do mestre Pedro.
Um bêbado e uma puta velha tontos brigando
no pé do balcão do bar de Valentim
terminando na bodega de Seu Quinco.
Um cuspido. Um cigarro aceso de palha de milho.
Fumo brabo de rolo cortado entre os dedos
com um velho canivete suíço.
Depois uma prosa. Um causo contado pelo finado Chico.
Um gole de café torrado no caco cheiroso
e adoçado com rapadura raspada no canto da mesa de angico,
sob o gume amolado de um facão rabo de galo.
Uma boa conversa no alpendre. Um vento fresco.  
Um bezerro enjeitado. Um cochicho no ouvido, um fuxico...
Uma reza de pião roxo para curar coqueluche,
espinhela caída, mau olhado e panadiço.
Uma velha chamando nome e jogando praga no mundo.
Um jumento de lote viçando pela noite a dentro.
um gemido suspeito na moita fechada de mufumbo.
Uma mulher espoletada dizendo aos gritos:
- Tô no prego. Também queria isso. 
Mais antes fosse jerico este meu homi. 
Digo e não nego! Pelos seiscentos diabos... 
Não vale mais um cibazol este meu marido.
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José Cícero
Aurora - CE.
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